Tratamentos de Epicondilite Lateral em Esportes


Epicondilite Lateral (Cotovelo De Tenista) - Clínica Conex em Ijuí - RS

Podemos descrever a epicondilite lateral como uma patologia específica da origem da musculatura no epicôndilo lateral, geralmente causada por sobrecarga, em que microlesões são geradas na região de inserção dos tendões extensores (mais frequentemente o extensor radial curto do carpo) do punho, dos dedos e, em menor grau, o extensor radial longo do carpo, além da porção anterior do extensor comum dos dedos.

A dor, geralmente, inicia-se de forma leve e piora progressivamente na região do epicôndilo lateral, podendo irradiar para o antebraço, punho, mão e ombro. Conforme se agrava a tendinopatia, tarefas simples como pegar um recipiente com leite ou girar uma maçaneta podem tornar-se difíceis de realizar.

Com relação à prática esportiva,  deve-se lembrar sempre da biomecânica do tênis, esporte que mais frequentemente causa esta lesão. Estima-se hoje, segundo relatos da literatura nacional e internacional, que cerca de metade dos tenistas vão ter em algum dia da sua vida esportiva esta lesão, conhecida como tennis elbow). A empunhadura e os golpes de rebatida do tênis requerem a utilização abrangente dos extensores do antebraço. Os extensores se tornam lesionados à medida que os músculos vão sendo fadigados pela atividade repetitiva.

A técnica incorreta na realização dos golpes é o fator que mais frequentemente causa a epicondilite lateral em qualquer esporte. No cotovelo de tenista, de um modo geral, batem seus golpes de backhand com o "cotovelo a frente" sem completar o movimento até o final da batida. Sabe-se que isso provoca estresse excessivo no epicôndilo lateral e atividade anormal da musculatura do antebraço. Outra dica importante da prevenção: se o tenista conseguir jogar com as duas mãos o golpe de backhand isso também previne as lesões. Isso se explica por dois motivos: em primeiro lugar, o atleta dissipa as forças de impacto do golpe nos dois membros superiores; secundariamente, ele também é forçado a rodar mais o tronco na fase de preparação do golpe, o que vai fazer com que a sua energia angular seja maior, evitando o esforço do membro superior dominante isoladamente.

A epicondilite lateral também pode ocorrer pelo uso de equipamentos inadequados. O tamanho da empunhadura da raquete deve ser observada cuidadosamente e personalizada de cada um com o tamanho da mão do atleta, a tensão das cordas da raquete também deve ser medida. Recomendamos, de rotina, que, sempre que o tenista não tenha objeção, em detrimento do rendimento, que sejam utilizadas raquetes de perfil largo. Estas têm a cabeça maior, e área de vibração mínima (sweet spot) maior, o que previne o excesso de vibração na hora da rebatida.


Outra dica importante para o tenista: tensões do encordoamento acima de 57 libras também aumentam a chance de lesão e é por isso que hoje recomendamos que se escolha um equipamento adequado ao seu tipo de jogo e à potência dos golpes que normalmente ele utiliza.


Recomendações gerais para prevenção da epicondilite lateral em tenistas:
 

a. Evitar bater as bolas atrasadas
b. Aprender a realizar o complemento dos golpes (saque, direita, esquerda e voleio) de forma adequada
c. Procurar fazer o contato da bola com a cabeça da raquete com o cotovelo posicionado sempre em extensão
d. Preparar bem a rotação de tronco antes do golpe de backhand para poder fazer a rebatida com o cotovelo em extensão
e. Evitar jogar com bolas muito velhas
f. Usar tensões máximas do encordoamento de 56/57 libras
g. Preferir cordas de tripa sintética ou tripa natural
h. Usar raquetes com perfil largo na cabeça, pois elas têm área maior de vibração central mínima (sweet spot)
i. Aproveitar a força de flexão dos joelhos na hora do saque
j. Tentar jogar o backhand com as duas mãos.
 

Etiopatogenia


A sobrecarga constante que ocorre em várias atividades esportivas (como o tênis) gera microtraumas nos tendões e nos músculos no epicôndilo lateral, e o fator sobrecarga é o principal mecanismo que gera a lesão. Os microtraumas promovem o surgimento de hiperplasia angiofibroblástica no tendão acometido, como resultado destes estímulos repetitivos crônicos. Esses achados sugerem que a epicondilite crônica constitui uma entidade mais degenerativa que inflamatória. Depois do trauma inicial, estas áreas se lesam com mais frequência, conduzindo a hemorragia e a formação com depósitos de tecido granulosos e de cálcio dentro dos tecidos circunvizinhos(32).


No tênis, exemplo clássico de esporte em que é bem frequente este tipo de patologia, a dor geralmente é exacerbada em decorrência do golpe de backhand e, geralmente, acomete pacientes dos 35 aos 50 anos de idade. 


Quadro clínico 


O sintoma principal é dor, que é relatada na parte externa do cotovelo e, ocasionalmente, pode irradiar-se do antebraço para o punho e ombro. A dificuldade para realizar a extensão do antebraço pode ser um sintoma frequente (por causa dos músculos e dos tendões inflamados). Esta dor pode permanecer por semanas ou meses, e não é raro o paciente somente procurar atendimento quando não consegue nem mesmo realizar um aperto de mão. Consideramos a lesão crônica quando os sintomas duram pelo menos três meses.


Diagnóstico clínico


O diagnóstico clínico leva em consideração vários aspectos relacionados à prática esportiva do tênis. Anamnese bem detalhada sobre o desenvolvimento da disfunção, assim como o tempo de prática do esporte, as formas de aumento e diminuição da dor, movimentos básicos realizados pelo atleta e os testes especiais específicos - teste de Maudsley, teste Cozen e o teste de Mill, praticamente fecham o diagnóstico.


Radiologia


O exame radiológico simples é realizado de rotina, nas incidências anteroposteriores e perfil. O ultrassom pode ser utilizado, e é um excelente método de imagem para lesões agudas. Em casos crônicos, em que vários tratamentos já foram realizados, a ressonância magnética deve ser solicitada, pois pode trazer dados mais precisos com relação às patologias que podem causar dores semelhantes à epicondilite lateral (como a síndrome de compressão do interósseo posterior).


Diagnóstico diferencial


O teste do dedo médio auxilia o diagnóstico diferencial da síndrome do nervo interósseo posterior com a epicondilite lateral. Deve ser realizado com o cotovelo a 90 graus de flexão e punho em posição neutra. Pressiona-se o terceiro dedo, evitando que este faça extensão ativa. O aumento da dor nessa manobra sugere síndrome do interósseo posterior. Outro teste utilizado no diagnóstico diferencial entre essas duas patologias é realizado com a infiltração de 1,0ml de lidocaína no nível do epicôndilo lateral. Nos casos de epicondilite lateral os sintomas desaparecerão, enquanto que, na síndrome do nervo interósseo posterior, os mesmos persistirão


Tratamento clínico e cirúrgico


Muitos tratamentos foram descritos na literatura para melhorar a dor dos pacientes que sofrem de epicondilite lateral, porém, praticamente todos falam a respeito da população não esportista(36), e isso pode trazer dados conflitantes quando nos deparamos com atletas (basicamente tenistas, população esportiva na qual a lesão é mais prevalente).


Quando nos deparamos com uma lesão aguda, o tratamento é realizado através de analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais. Essa conduta é sempre indicada junto ao tratamento fisioterápico, pois visa o adequado equilíbrio muscular, analgesia e propriocepção do membro superior como um todo, respeitando o trabalho de adequação ao gesto esportivo praticado.
 

As infiltrações com corticoides podem ser uma saída para a melhora do quadro local de dor, porém a literatura médica deixa bem claro que a maior parte dos efeitos são fugazes e que, a longo prazo, os pacientes que praticam esportes podem voltar a sentir novamente a dor, já que o corticoide não cura a degeneração tecidual que é vista com frequência nos quadros crônicos.


Outra alternativa de tratamento conservador que podemos usar é a aplicação de ondas de choque. Recentemente, muitos trabalhos com boa evidência científica, falam a favor do uso desta terapia nos casos que não evoluem bem com a fisioterapia convencional.


A cirurgia da epicondilite lateral só tem espaço para indicação nas lesões crônicas. Quando os sintomas ainda são aparentes por mais de seis meses e houve insucesso do tratamento médico não-cirúrgico e fisioterápico, a cirurgia é indicada. Essa cirurgia consiste na retirada do tecido fibrótico degenerado, localizado na origem dos extensores. A liberação parcial da origem do extensor no epicôndilo lateral do úmero pode ser realizada, mas em esportistas evitamos fazer a liberação e o abaixamento do tendão. Em alguns casos associa-se a ostectomia do epicôndilo, ou até mesmo perfurações ósseas.

A fisioterapia pode ser indicada pelo médico e deve ser feita com orientação do fisioterapeuta, com exercícios de alongamento e fortalecimento da musculatura do antebraço para aumentar a flexibilidade e melhorar a estabilidade do cotovelo, ajudando a controlar a dor e a melhorar os movimentos.

O tratamento fisioterápico deve ser escolhido pelo próprio fisioterapeuta de forma individualizada, podendo ainda ser indicado o uso de equipamentos como TENS, ultrassom, laser, ondas de choque ou iontoforese, por exemplo. 

Além disso, o fisioterapeuta pode indicar o uso do kinesio tape, pois ajuda a restringir o movimento dos músculos e do tendões afetados, promovendo melhora dos sintomas. 

Outra opção de tratamento que o fisioterapeuta pode realizar são as técnicas de massagem transversa para ajudar a acelerar a recuperação.

Exercícios de estiramento passivo e exercícios ativos devem ser instituídos após desaparecimento da dor, inicialmente sem carga e, posteriormente, com pesos.

 Publicdo em 25/07/13 e revisado em 15/07/22

 


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