Tênis: a relação entre o tipo de piso e a incidência de lesões

Bem, antes de mais nada gostaria de agradecer ao Dr. Rogério Teixeira da Silva (www.medsports.com.br), médico ortopedista, coordenador do comitê médico da Confederação Brasileira de Tênis, pela colaboração com idéias e informações fundamentais para o meu aprofundamento teórico no tênis. Um outro agradecimento a ser feito é ao idealizador do Fitvirtual, Marcio Atalla, que me incentivou a iniciar a prática deste esporte apaixonante. A primeira coisa que se pensa quando associamos tênis e fisioterapia é o lugar comum “tennis elbow”, também conhecido com epicondilite lateral do cotovelo, porém resolvi falar disso apenas na próxima coluna quando abordaremos o assunto raquetes e técnica, que têm interferência fundamental nesta patologia. Quem quiser se adiantar poderá ler na coluna medicina desportiva uma visão médica sobre o assunto. Existem vários tipos de piso para prática do tênis e eles são divididos classicamente em três: Grama, Quadra dura (Existem muitos tipos de piso que se enquadram na classificação quadra dura, tipo o Lisonda, o cimento e o carpete, entre outros) e Saibro; Essa diferença entre os tipos de piso determina ao tênis uma particularidade em relação a quase todos os outros esportes, um jogador profissional ou não, está sempre alternando de piso, vide os quatro torneios do “Grand Slam”, eles são jogados em tipos diferentes de piso, Austrália e US Open - quadra dura, Wimbledon – grama e Roland Garros – saibro. As grandes diferenças entre os pisos estão no quique da bola e na possibilidade ou não de deslizamento lateral. Na grama a bola sobe muito pouco e normalmente ganha uma aceleração importante após o quique, por conta disso o jogo tende a ganhar em agressividade no saque e na devolução, pois estes movimentos serão decisivos nas conclusões dos pontos, além disso, a grama não permite o deslizamento, vários atletas profissionais têm reclamado muito com seus patrocinadores dos solados de seus calçados de grama, pois eles estão agarrando demais; No saibro o quique da bola é mais alto, o que permite uma preparação relativamente longa para os golpes, mais trocas de bola no fundo de quadra associada a muitos deslocamentos laterais com deslizamento são necessárias para as decisões dos pontos, são duas formas distintas de se jogar tênis, tanto tática como fisicamente. A quadra dura apresenta uma combinação entre os outros dois tipos de piso, o quique é intermediário e o estilo saque-voleio muito utilizado para a definição dos pontos como na grama, porém ultimamente tem se observado de forma muito freqüente “rallies” de fundo de quadra como no saibro. Num trabalho publicado no periódico Medicine and Science in Tennis por Per Bastholt, um dos 5 fisioterapeutas que supervisionam os torneios da ATP, onde foram apresentados resultados de uma pesquisa realizada ao longo de três anos, onde os atendimentos médicos/fisioterapêuticos em torneios da ATP foram catalogados nos três diferentes tipos de piso. Em relação a área corporal as lesões de membro inferior foram as mais freqüentes 35-50%, seguidas da região da coluna 20%, membro superior 20% e outras áreas entre 15-30%. Em relação ao tipo de piso, levando-se em conta apenas atendimentos para o membro inferior, na grama e na quadra dura, quase 2 atendimentos médicos foram realizados para cada 5 jogos, sendo que apenas a metade foram realizados nos torneios em saibro, ou seja, 1 atendimento para cada 5 jogos. Porém, como vi num simpósio realizado no dia que antecedeu a Copa Davis aqui no Rio, a relação se inverte quando levamos em conta a coluna e os membros superiores, ou seja, no saibro a necessidade dos atendimentos é maior do que na quadra dura e do que na grama, respectivamente. E para que servem essas informações? Bem, com elas podemos tanto ajudar a prevenir lesões, como podemos acelerar o retorno do atleta (profissional, amador competitivo ou amador recreacional) a sua atividade esportiva. Sabendo da maior incidência de lesões no membro inferior em quadras duras, principalmente devido a uma alta intensidade nas freadas, acelerações, desacelerações e giros sobre uma superfície que não permite o deslizamento lateral, devemos realizar um bom aquecimento antes da partida e também enfatizar os alongamentos para o membro inferior antes e depois da partida, minimizando a possibilidade do aparecimento das diversas tendinites e tendinoses que perseguem os tenistas, além disso a utilização de “braces” de tornozelo podem estar indicadas para evitar as entorses. Já no saibro, onde a troca de bola demora mais tempo e há uma necessidade maior dos movimentos de torção do tronco para acelerar a bola, devemos enfatizar, além de um bom aquecimento, o alongamento da musculatura do tronco e dos membros superiores. Podemos colocar um atleta que se encontra em tratamento mais cedo da seguinte forma, se ele tem lesão dos membros inferiores, indicamos uns retornos no saibro onde as freadas são menos intensas e menos freqüentes, se o paciente tem lesão na coluna ou nos membros superiores, podemos indicar um retorno numa quadra dura, pois os pontos duram menos e o estresse nas estruturas em recuperação seria menor. É lógico que estamos apresentando linhas gerais, cada paciente deve ser avaliado e tratado de forma individualizada, onde o que é verdade para um pode não ser para o outro, uma dica que podemos generalizar é: Se você quer iniciar a pratica do tênis, primeiro prepare-se fisicamente, a grande incidência de lesões musculares e tendinosas dos atletas recreacionais ocorre devido à falta de condicionamento físico e de um bom alongamento muscular, e segundo, faça com um professor habilitado, ele será capaz de orienta-lo tecnicamente de forma a evitar várias lesões freqüentes relacionadas a técnica inadequada.
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