Lesões Ortopédicas na Escalada Esportiva e Montanhismo
A escalada é um esporte que está tornando-se cada vez mais popular.
Esta tendência de crescimento faz com que haja um aumento no número de praticantes e conseqüente aparecimento de lesões correlacionadas a estas atividades. Esse esporte apresenta diversas modalidades, por exemplo, escalada em alta montanha, escalada no gelo, escalada esportiva e o bouldering.
Na escalada esportiva as paredes tem em média 50 metros de altura variando com o grau de dificuldade, sendo que o atleta está protegido por equipamentos de segurança, se concentrando apenas na realização dos movimentos. Na escalada em rocha o risco da queda determina lesões traumáticas nos membros inferiores.
As lesões mais prevalentes nesse esporte acometem principalmente membro superior. A postura e os movimentos específicos da escalada exigem posições dos membros superiores no limite das articulações, com cargas muitas vezes elevadas, podendo explicar as lesões encontradas nesses atletas. As bases de tratamento não estão bem determinadas, podendo levar a freqüentes recidivas e insucesso no tratamento, com conseqüente perda de rendimento e eventual abandono do esporte. O objetivo desse trabalho será avaliar o perfil do atleta de escalada esportiva e suas lesões avaliados no período de 10 anos.
Material e métodos
Foram avaliados 192 atletas praticantes de escalada esportiva que realizavam regularmente algum tipo de treinamento e que não sofreram
Tipo de agarra que mais causam lesões nas polias. Hiperextensão da interfalangeana distal e flexão da interfalangeana proximal. |
traumas secundários a outros esportes, em um período entre janeiro de 2001 até março de 2011. Somando 247 atendimentos por lesão.
Como instrumento de avaliação utilizamos um questionário, para obtenção dos seguintes dados;
Dados pessoais (idade e gênero), presença ou não de técnico ou preparador físico, forma de treino (alongamento, aquecimento, atividade aeróbia, freqüência e duração) e grau de dificuldade praticado pelo atleta.
O grau de dificuldade é classificado por um sistema alfa numérico e em diferentes regiões do mundo possuem diferentes escalas.
Por último avaliamos eventuais lesões; dor na pratica esportiva, sua localização, intensidade, tratamento e se já tinha deixado de praticar o esporte por causa de dor. Consideramos com lesão qualquer evento traumático ou não relacionado ao esporte que afastou o atleta dos treinos por pelo menos um dia.
Avaliação estatística foi realizada através do estudo do teste t de Students assumindo-se o valor de 0,005 para p.
Lesão ligamentar da interfalangeana proximal em escalador de rocha. |
Cada analise testou uma das variáveis; idade, alongamento, frequência semanal de treinos, duração dos treinos, modalidade e grau de dificuldade.
Essas variáveis foram testadas quantos aos efeitos delas sobre a frequência de lesões.
Resultados
Dos avaliados, 178(73,5%) referiram algum tipo de lesão.
Os atletas foram divididos em três faixas etárias não havendo efeito da idade sobre a freqüência de lesão (p=0,789).
Não encontramos efeito do gênero sobre a freqüência de lesão, sendo 137 homens com frequência de 74,4% e 37 mulheres com frequência de 70,2%. (p=0,611). O mesmo foi encontrado quanto à realização ou não de alongamento, (p=0,649).
Em relação à freqüência de treinos observamos que está foi maior em indivíduos que treinavam de duas a três vezes por semana. (p=0,0001)
Lesões no pé do escalador: Lesões dermatologicas pelo uso da sapatilhas, extremamente apertadas para conferir aderência na rocha. |
A duração dos treinamentos em horas apresenta relação direta com a ocorrência de lesões (p=0,0001)
De acordo com o tipo de modalidade praticada, observamos que 47 atletas escalavam esportiva em rocha com uma freqüência de lesão de 54,5%, os 69 atletas que escalavam esportiva indoor, apresentara freqüência de 71,0%, os 49 atletas que escalavam bouldering, tinham uma freqüência de lesão de 93,8% e os nove atletas que escalavam outras modalidades apresentaram uma freqüência de 55,6%. Sendo a modalidade Bouldering a que apresenta maior número de lesões. (p=0,001)
Encontramos uma relação direta com o grau de dificuldade da escalada, onde os 17 atletas que escalavam em um nível fácil (5A ou menos) tinham frequência de lesão 29,4%, os 37atletas que escalavam em um nível moderado (5B a 6C) tinham uma frequência de lesão de 59,4%, os 76 atletas que escalavam um nível difícil (7A a 8C) e os 42 que escalavam em um nível muito difícil (9A ou mais), apresentaram uma frequência de lesão de 80,2% e 95,2% respectivamente. Sendo que quanto maior o nível escalado maior a ocorrência de lesões. (p=0,001).
Discussão
A escalada é um esporte que apresenta um alto índice de lesões.
O estudo de GERDES, E. M., HAFNER, J.W., ALDOG, J.C., 2006, realizaram entrevistas em diversos sites de escalada durante dois meses e encontraram 2472 lesões relatadas.
No presente estudo, os 348 entrevistados foram divididos em três faixas etárias e observou-se que as maiorias desses praticantes tinham idade entre 21 a 29 anos, no entanto a frequência de lesão foi maior no grupo etário entre 13 a 20 anos. A literatura não mostra evidências de que a idade seja uma variável significativa para a frequência de lesão, porém ela aponta que a cada vez mais jovens estão praticando esse esporte, pois de acordo com a associação outdoor cerca de seis milhões de pessoas, com 16 anos ou mais, sejam praticantes desse esporte (GERDER, HAFNER, ALDAG-2006).
Em relação às outras variáveis como gênero, que apresentou p=0,611 e a realização ou não alongamento que apresentou p=0,649, não evidenciaram diferenças estatisticamente significativas.
A literatura não mostra evidências de que a realização ou não de alongamento pode interferir na frequência de lesão.
No entanto, os atletas que treinavam três vezes por semana eram em maior número, por isso também não se pode afirmar que os atletas que treinam mais de três vezes por semana terão menor frequência de lesão.
Quanto a essa variável, a literatura não aponta dados específicos, pois GERDES, E. M., HAFNER, J.W., ALDOG, J.C., 2006, e WRIGHT, D. m., ROYALE, T. J., MARSHALL, t., 2001, mostraram que as lesões mais comuns em escaladores eram por sobrecarga, no entanto a freqüência de treinamentos não era determinada e sim o tempo de experiência do atleta nesse esporte.
A duração dos treinos também foi uma variável que apresentou diferença estatisticamente significante, p=0,0001, porém esse dado não esta estruturada e deve-se ter cuidado ao interpretá-lo, pois os atletas que praticam treinos de 3 horas tiveram maior frequência de lesão quando comparados com os atletas que treinam, por exemplo, 5 horas
ou mais, também não podendo afirmar que os atletas que treinam mais de 3 horas tenham uma frequência menos de lesão.
Portanto, pode-se concluir que a escalada é um esporte com alta frequência de lesão, e que indivíduos jovens em atividades físicas mais intensas (Bouldering) tem maior chance de lesão.
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