Lesões do Ligamento Cruzado Anterior em Atletas


O Ligamento Cruzado Anterior (LCA) é um ligamento denso, localizado no centro do joelho, que liga a superfície medial do côndilo femoral lateral, à porção ântero-medial da tíbia. Tem papel fundamental na estabilidade articular do joelho, tendo como função primária, estabilizar a articulação no sentido ântero-posterior. Também tem papel importante no controle da estabilidade rotacional. Pode ser dividido macroscopicamente em 2 porções ou bandas, cada qual com características e funções específicas.

Nas últimas décadas presenciamos uma grande evolução nos esportes em geral. O esporte se tornou mais veloz, intenso e cada vez mais físico. Com isso, houve também um grande aumento no número de lesões e, em especial, as lesões localizadas nos joelhos. Especificamente no basquete, Starkey et al, demonstrou, em um estudo acompanhando atletas da NBA por 10 anos, que o joelho é o segmento anatômico que responde pelo segundo lugar no número total de lesões (perdendo apenas para os tornozelos) e o principal responsável pelo afastamento dos atletas de treinos ou partidas. Outro estudo epidemiológico envolvendo 12 esportes apontou as lesões no joelho como as responsáveis pelo maior custo para o tratamento. É nesse contexto que se inserem as lesões no ligamento cruzado anterior.

As lesões do LCA são extremamente freqüentes na população desportista e acomete principalmente esportes que envolvam contato, desacelerações, mudanças de direção, saltos e aterrissagens. No Brasil, os dois principais esportes relacionados a essa lesão são o futeboal e o basquete. Estima-se que ocorram mais de 50 mil lesões de LCA por ano no mundo.

As lesões do LCA em geral são desencadeadas por um entorse do joelho, de origem traumática (desencadeada por um choque com outro atleta) ou atraumática (atleta torce sozinho, sem que haja uma força externa desencadeante), o último ocorrendo nas fases de desaceleração e aterrissagem de um salto. Os entorse de origem atraumática são comuns principalmente no sexo feminino. No momento do entorse, o joelho se encontra próximo da extensão (20 a 30° de flexão), e ocorre uma força em valgo, acompanhada de uma rotação externa da perna. O atleta sente um estalo e forte dor imediata, acompanhada de grande edema no joelho e incapacidade até de pisar com o membro acometido. O diagnóstico é feito pela combinação da história do trauma, exame clínico demonstrando instabilidade articular e exames complementares ( Ressonância Magnética).

O tratamento em atletas é sempre cirúrgico, sendo realizado através da implantação de um tecido que substitui o ligamento rompido. Os tecidos mais utilizados para substituição são o 1/3 central do tendão patelar e os tendões flexores da pata de ganso (Semitendíneo e Grácil). É possível também a utilização de enxertos de cadáver, porém devido à dificuldade de acesso, esse recurso é pouco utilizado em nosso país. A técnica cirúrgica pode variar também nos implantes utilizados para fixação do neoligamento e na reconstrução de uma ou duas bandas do ligamento.

Além dos avanços ocorridos no tratamento cirúrgico, muito se tem pesquisado sobre os fatores que levariam o atleta a desenvolver tal lesão. Além dos fatores extrínsecos como o tipo de esporte, tipos de quadra, calçado, foram identificados fatores intrínsecos que tornam o indivíduo mais suscetível a uma lesão do LCA. Sabe-se que as mulheres, quando expostas a mesma freqüência de treinamentos e jogos, tem uma chance 4 a 8 vezes maior de sofrerem uma ruptura de LCA que os homens. Essa maior predisposição é atribuída a um conjunto de alterações anatômicas, hormonais e biomecânicas, características do sexo feminino.  Sabe-se também que as mulheres tendem a sofrer a lesão em uma idade mais precoce que os homens.

Com a identificação dos possíveis atletas em risco, grandes esforços vêm sendo feitos para prevenir a lesão. Atualmente, uma série de estudos provou que o treinamento preventivo, constituído de exercícios de flexibilidade, fortalecimento, pliométricos e de propriocepção, são capazes de diminuir em até 70% a chance de ocorrer uma lesão. Esse parece ser o novo caminho a ser seguido dentro da Medicina Esportiva.

As lesões do cruzado anterior são consideradas lesões graves que trazem grandes repercussões físicas, mentais e financeiras para o atleta acometido. Basta dizer, que o atleta tem de passar por um tratamento cirúrgico, com reabilitação dolorosa e prolongada e que obriga um afastamento da atividade esportiva, que varia de 6 a 8 meses. Mesmo após o tratamento correto, boa parte dos pacientes evolui com algum tipo de sintoma, dor ou insegurança, o que pode acarretar uma diminuição da performance. 

Por:

Dr Daniel Gonçalves Docca
Dr. Moisés Cohen


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