Eficácia da Fisioterapia na propriocepção do joelho após a ruptura do LCA
A articulação do joelho é a maior e a mais complexa das articulações sinoviais do corpo, nela estão inseridos, entre outros, o ligamento cruzado anterior (LCA), onde se vai incidir este estudo.
Esta articulação de carga, une dois ossos longos com superfícies articulares pouco congruentes estando sujeito a lesões traumáticas, sendo uma das articulações mais lesadas do corpo.
O LCA é o ligamento do joelho que apresenta ruptura completa com maior frequência, sendo responsável por 50% de todas as lesões ligamentares. A maioria das lesões do LCA ocorre em actividades desportivas, principalmente naquelas que envolvem movimentos de desaceleração, rotação e saltos.
A ruptura deste ligamento não causa apenas alterações articulares das estruturas e nas suas funções, mas também representa a perda da função proprioceptiva na articulação do joelho. Estes factores podem provocar alterações das propriedades eléctricas dos músculos que atravessam a articulação do joelho.
Posto isto, optou-se por aprofundar o tema: a propriocepção na articulação do joelho após a ruptura do LCA, diante desses aspectos o presente trabalho pretende responder “Será que a fisioterapia auxilia na reabilitação da propriocepção do joelho após a ruptura do LCA?”.
O objectivo principal deste estudo é aglomerar informações sobre os diferentes tratamentos fisioterapêuticos e valorizar a importância da incorporação de um elemento proprioceptivo, uma vez que em qualquer programa de reabilitação se justifica, pelo facto de restaurar a sensibilidade proprioceptiva e melhorar o funcionamento da articulação, diminuindo o risco de ocorrências de novas lesões. Para tal vai ser realizado um estudo quantitativo, descritivo e transversal.
O estudo vai ser aplicado no distrito de Bragança em centros que realizem fisioterapia (incluindo Hospitais, Centro de Saúde e Clínicas de Reabilitação) e serão seleccionados pacientes com ruptura do LCA, que respeitem os critérios de inclusão do referido estudo.
Como questões secundárias serão investigadas a idade, o tipo de enxerto, e as complicações após cirurgia.
O objectivo da fisioterapia no processo de reabilitação é de enfatizar o retorno às actividades de vida diárias normais, com integral amplitude de movimento e força adequada promovendo ao paciente estabilidade e funcionalidade na articulação lesada.
Este estudo é valido e exequível uma vez que o tratamento fisioterapêutico melhora a propriocepção da articulação do joelho após a ruptura total do LCA.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Anatomia do Joelho
O joelho, origem do latim Genu, é um complexo articular que envolve três estruturas ósseas que são as seguintes: o fémur; a tíbia e a rótula (GOROTRON, 2007).
A articulação do joelho permite mobilidade e estabilidade, alongando e encurtando o membro inferior para elevar e baixar o corpo ou mover o pé no espaço. Actua também no suporte de carga quando o indivíduo está em pé juntamente com a anca e tornozelo (KISNER & COLBY, 1998).
Posto isto podemos designar duas articulações funcionais tais como a articulação fémero-tibial, a articulação entre o fémur e a tíbia e a articulação fémero-rotuliana, entre o fémur e a patela, que permite a flexão e extensa, assim como a rotação quando está flectida, o que lhe permite aproximar ou afastar o extremo do membro da sua raiz (KAPANDJI, 2000).
2.1.1. Cápsula articular
No joelho encontram-se superfícies articulares alojadas na mais extensa cápsula do corpo. Cápsula essa que está suportada a nível estático como dinâmico devido aos ligamentos adjacentes e estruturas musculotentinosas (Gould, 1993, cit. por SILVA et al., 2008).
A cápsula articular do joelho é em geral muito fina e deficiente em algumas zonas, reveste as articulações tíbio-femural e fémuro-rotuliana. Esta tem quatro inserções, que são as seguintes, no fémur acima da fossa intercondilar; no bordo dos côndilos femurais; no bordo da rótula e nos bordos dos côndilos tibiais (GOROTRON, 2007).
Posteriormente a cápsula é reforçada por músculos e pelos ligamentos poplíteo oblíquo e arqueado. As laterais da cápsula são reforçadas pelos ligamentos colaterais. A parte anterior desta é forçada pela da rótula, pelo tendão do quadricípete superior e o ligamento rotuliano. Na zona anteromedial e anterolateral formam-se os retináculos rotulianos que são expansões do músculo vasto medial e vasto lateral, que vão da rótula e do ligamento rotuliano aos ligamentos colaterais (GOROTRON, 2007).
2.1.2. Ligamentos
Os ligamentos são constituídos por um feixe de tecido fibroso, formado por tecido conjuntivo, que unem duas estruturas ósseas de uma articulação ou mantém um órgão interno na sua posição habitual. Na sua constituição tem fibras colágenas ordenadas em feixes que lhe oferece grande resistência mecânica (KAPANDJI, 2000).
Todos os ligamentos do joelho são importantes para a sua estabilidade. Devido à tensão dos ligamentos em extensão, o end-feel do joelho é duro, embora não havendo embate ósseo (GOROTRON, 2007).
2.1.2.1. Ligamentos colaterais
Os ligamentos colaterais são extracapsulares. O ligamento colateral medial tem a sua origem no epicôndilo femural medial, orientado anteriormente para inserir-se na face medial da tíbia. Profundamente a este ligamento podem estar presentes uma ou mais bolsas. O ligamento colateral lateral, tem uma configuração mais arredondado e em forma de cordão. Este ligamento tem a sua origem no epicôndilo femural lateral e insere-se posteriormente, na cabeça do perónio. O ligamento colateral lateral não tem fixações no menisco ou na cápsula articular ao contrário do medial (GOROTRON, 2008).
2.1.2.2. Ligamentos cruzados
Os ligamentos cruzados são intra-articulares, estão localizados no centro da cápsula, encontrando-se fora da cavidade sinovial. Recebem esta denominação devido as suas inserções tibiais e por se cruzarem no centro do joelho. O LCA tem origem no côndilo femural lateral, na parte postero-interna deste, passando sob o ligamento transverso e de seguida insere-se na tíbia anterior. O ligamento cruzado posterior (LCP) por usa vez tem origem na parte interna do côndilo femural medial e de seguida insere-se na parte posterior da tíbia, este é menos oblíquo e tem um tamanho mais reduzido do que o LCA. Ambos os ligamentos têm fascículos que podem ser divididos em banda anterior medial e banda posterior lateral (GOROTRON, 2007).
2.1.3. Músculos
O principal músculo responsável pela extensão do joelho é o quadricípete, sendo o recto anterior a sua única porção que cruza as duas articulações. Os músculos responsáveis pela flexão são os ísquio-tibiais, auxiliados pelo recto interno, sartório e gémeos. Para Gardner (1988, cit. por GOROTRON, 2007) é improvável que o poplíteo contribua para a flexão do joelho. O bícipete femural é o responsável pela rotação lateral, enquanto o semitendinoso e o semimembranoso são responsáveis pela rotação medial. Segundo o mesmo autor, o semimembranoso não participa na rotação medial, mas sim o poplíteo, sendo considerado importante para “destrancar” a articulação.
A figura que se segue representa a anatomia do Joelho.
Figura 1: Anatomia do Joelho
Fonte: http://www.gustavokaempf.com.br/joelho/anatomia
A figura anterior (Figura 1) é composta por quadro imagens do joelho. A primeira imagem representa o plano ósseo da articulação do joelho, sendo ela composta pelo fémur, tíbia e a rotula. A segunda imagem ilustra a localização das bolsas, cápsula articular, a membrana sinobial, a cartilagem articular, entre outras. A terceira imagem representa a vista anterior em flexão, ilustrando toda a sua anatomia. Por fim a quarta imagem representa a vista posterior em extensão do joelho, ilustrando toda a sua anatomia.
2.2. Anatomia do LCA
O LCA e o LCP são estruturas responsáveis pela estabilidade do joelho. São ligamentos extra sinoviais, apesar de serem ligamentos intra-articulares. Ambos recebem esta denominação devido à sua inserção tibial, e por se cruzarem no centro do joelho (CASTRO et al., 2003).
Os ligamentos cruzados têm como função promover a estabilidade ântero-posterior da articulação do joelho. Estudos realizados por Hebert, (2003, cit. por BORBA & PETROCHI, 2005) comprovam que o LCA tem comportamento mecânico individualizado. O LCA é o ligamento mais fraco, esta característica deve-se ao número reduzido de vasos sanguíneos e colágenos do tipo IV (Andrews, 2000; Harrelson, 2000; Wilk, 2000, cit. por SAVOLDI, 2005).
O LCA tem a origem na porção postero-lateral do intercondilo e a respectiva inserção dirige-se para a frente no centro do platô tibial no lado externo e à frente da espinha anterior da tíbia. Contudo, a inserção tibial é mais firme do que a inserção femoral por ocupar uma área mais ampla e deprimida (Campbell, 1996, cit. por BORBA & PETROCHI, 2005; Crenshaw, 1989, cit. por PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007; Irrgang & Rivera, 1994, cit. por PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007).
O LCA é o principal estabilizador do joelho contra a translação anterior da tíbia sob o fémur e contra a rotação externa do fémur sobre a tíbia, tendo também importante contribuição (juntamente com o ligamento colateral medial) na estabilização contra o stress valgo. Além desta função mecânica, tem sido descrito, ainda, um papel complementar proprioceptivo, por meio de terminações nervosas contidas no mesmo (Frank & Jackson, 1997, cit. por VIEIRA et al., 2005; MELLO et al., 2003).
2.3. Lesão do LCA
A faixa etária mais comum associado com rupturas do LCA está entre 15 e 25 anos de idade, porém esta lesão também tem sido vista em indivíduos activos com até 50 anos. Além disso, existem factores que predispõem o indivíduo à lesão do LCA inclui os seguintes: nó intercondilar estreito, rotação tibial, hipermobilidade, alinhamento do pé e largura da pelve no atleta do sexo feminino (Maxey & Magnusson, 2003, citado por SAVOLDI, 2005).
A ruptura completa do LCA é a ruptura do ligamento do joelho que se apresenta com maior frequência, sendo este responsável por 50% de todas as lesões ligamentares no desporto. Onde os principais mecanismos de lesão são: rotação externa, abdução e forças anteriores aplicadas na tíbia; rotação interna do fémur sobre a tíbia; hiperextensão do joelho; desaceleração e saltos. A lesão ligamentar do LCA pode também ocorrer por mecanismo directo, quando o joelho é atingido por um corpo externo (Barber-Westin & Noyes, 1993, cit. por LUSTOSA et al., 2007; Benedito & Reis, 2004, cit. por SAVOLDI, 2005; Bollen, 1998, citado por BONFIM & PACCOLA, 2000; Bollen, 1998, cit. por CARDOSO et al., 2008; Brito et al., 2009; Duthon et al., 2006, cit. por CARDOSO et al., 2008; Gould, 1993, cit. por SALVOLDI, 2005; Hebert, 2003, cit, por BORBA & PETROCHI, 2005; MELLO et al., 2003; Sampaio & Souza, 1997;).
Segundo Benedito e Reis (2005, cit. por SAVOLDI, 2005) o LCA tem basicamente duas funções, a mecânica e a proprioceptiva. Relativamente à função mecânica esta evita que o fémur se mova posteriormente durante a sustentação de peso; estabiliza o joelho na extensão total e evita a hiperextensão. Também estabiliza a tíbia contra a rotação interna excessiva e serve como limitador secundário para stress em valgo/varo quando o ligamento colateral estiver lesado. Relativamente à função proprioceptiva, esta por conter mecanorreceptores, o ligamento informa ao sistema nervoso central (SNC) sobre mudanças de posição e stress articular que ocorrem no membro. Com a ruptura do LCA o joelho fica desprovido tanto de informações proprioceptivas originadas do ligamento, quanto de sua função mecânica.
2.4. Cirurgia do LCA
Com a evolução das técnicas de anestesia, assepsia e terapia antibiótica, a abordagem cirúrgica no tratamento da lesão do LCA começou a ganhar espaço (PENTEADO et al., 2003).
A reconstrução do LCA é um dos procedimentos mais comummente realizados na área da medicina desportiva. Este procedimento obteve grande avanço nos últimos anos com a introdução da técnica artroscópica. Apesar da incidência das complicações ter diminuído, o cirurgião deve ter conhecimento profundo da anatomia e das técnicas cirúrgicas a serem realizadas, para procurar evitá-las (PENTEADO et al., 2003; FAUSTINO, 2004).
Para Kisner e Colby, (1998, cit. por SALVOLDI, 2005) a intervenção cirúrgica é indicada quando a instabilidade articular causa incapacidade e limitações funcionais ou pode eventualmente levar à deterioração das superfícies articulares.
Segundo Ellenbercker (2002, cit. por SALVOLDI, 2005), os principais objectivos da reconstrução do LCA e de sua reabilitação são a restauração da estabilidade do joelho, preservação dos meniscos e das superfícies articulares, retorno seguro e rápido às actividades normais e identificação precoce de possíveis complicações.
2.5. Escolha do enxerto
A melhor escolha do enxerto para a substituição do LCA é importante para a melhor obtenção final da reconstrução (SAVOLDI, 2005).
Na selecção de um enxerto, temos que ter em conta as propriedades biomecânicas do enxerto, facilidade para a colecta e fixação do enxerto, a morbilidade para o local doador e preocupações individuais dos pacientes (SAVOLDI, 2005).
Na actualidade os enxertos mais utilizados são: o terço médio do ligamento rotuliano, os tendões dos músculos isquiotibiais (mais propriamente o músculo semitendíneo e recto interno), e o tendão quadricipital, por ordem de maior popularidade (PENTEADO et al., 2003).
O tendão rotuliano é o enxerto mais pretendido pelos ortopedistas, devido às suas propriedades mecânicas, à sua revascularização, resiste ao estiramento e porque a sua fixação é a mais forte (Jones, 1963; O’brien, 1992, cit. por PACCOLA et al., 2000; PENTEADO et al., 2003; Gould, 1993 cit. por SAVOLDI 2005).
Os enxertos homólogos ainda são pouco utilizados e obtêm-se a partir de cadáveres humanos, a justificação para tal é devido à baixa disponibilidade e ao seu custo elevado de processamento (PENTEADO, 2003). Como principais vantagens podemos referir a baixa morbidade do paciente, o tempo cirúrgico ser reduzido e a dor pós-operatório ser menor (PACCOLA, 2000; PENTEADO, 2005).
2.6. Propriocepção
Segundo Bacarin et al., (2004, cit. por SALVOLDI, 2005) o termo propriocepção é utilizado para descrever todas as informações neurais originadas nos proprioceptores das articulações, músculos, tendões, cápsulas e ligamentos, que são enviadas através de vias aferentes ao SNC, de modo consciente ou inconsciente, sobre as relações biomecânicas dos tecidos articulares, as quais podem influenciar o tónus muscular, programas de execução motora e coordenação, cinestesia, reflexos musculares, equilíbrio postural e estabilidade articular.
Nunes et al., (2003, cit. por OLIVEIRA et al., s/data) define propriocepção como a capacidade inconsciente de sentir o movimento e a posição de uma articulação no espaço. É caracterizada por aferencias neurais cumulativas originadas de mecanorreceptores. Na articulação do joelho esses mecanorreceptores situam-se nas cápsulas, ligamentos, músculos e tendões com aferências ao sistema nervoso central.
Na avaliação da propriocepção do joelho, autores de vários estudos baseiam-se na utilização do aparelho de movimentação passiva contínua (Continuous Passive Motion – CPM) (BONFIM & PACCOLA, 2000; SAMPAIO & SOUZA 1994;).
2.6.1. Receptores proprioceptivos
Em 1992, Lemos (cit. por BENEDITO et al., 2008) define como mecanorreceptores estruturas terminais especializados, cuja função é de transformar a energia mecânica da deformação física (alongamento, compressão e pressão) em potenciais de acção nervosos que geram as informações proprioceptivas.
As estruturas músculo-cápsulo-menisco-ligamentares do joelho, além da função estabilizadora mecânica da articulação, são sede de corpúsculos mecanorreceptores, também chamados de proprioceptores, que constituem o órgão sensorial dessa articulação (Boyd, 1954; Clark & Burgess, 1975; Finsterbush & Friedman, 1975; Krause, 1974; O’Connor & McConnaughey, 1978, cit. por SAMPAIO & SOUZA, 1994) .
Segundo Bacarin et al. (2004, cit. por SAVOLDI, 2005) os proprioceptores são receptores mecânicos, também chamados de mecanorreceptores, que são sensibilizados durante a deformação articular, levando informações sobre a angulação e velocidade do movimento.
Para SAMPAIO e SOUZA, (1994) os mecanorreceptores oferecem informações para o SNC sobre as mudanças de posição, movimento e stress articular num determinado tempo de resposta, por sua vez o cérebro inicia reflexo de contracção da musculatura em torno do joelho, criando um campo de protecção e estabilização dessa articulação.
Silvestre e Lima, (2003) (cit. por SAVOLDI, 2005) classifica os principais proprioceptores em três tipos (tipo I, II e III). Em que o mecanorreceptores do tipo I, situam-se na camada externa da cápsula fibrosa. Responsáveis pela disposição ordenada dos músculos tónicos de adaptação lenta. Os mecanorreceptores do tipo II, situam-se na camada inferior da cápsula fibrosa. Responsáveis pelo sentido do movimento ordenado aos músculos fásicos de adaptação lenta. E por fim os mecanorreceptores do tipo III, situam-se próximos aos ligamentos da articulação. Responsáveis pelo efeito inibidor dos reflexos sobre os neurónios motores.
2.6.2. Proprioceptores do Joelho
Os principais proprioceptores são os receptores articulares, compostos por terminações livres e pelos corpúsculos de Ruffini, Paccini e Golgi, e relacionam-se com as sensações de posição e direcção do movimento, sendo sensíveis as variações de amplitude e velocidade angular, bem como à pressão intra-articular. Nos ligamentos, funcionam como protectores e informam a posição respectiva do membro além da tensão ligamentar. Os receptores são estimulados através da sua deformação, sendo esta por meio da tracção ou coaptação articular (Lehmkuhl & Smith, 1999, cit. por MARTIMBIANCO et al., 2008).
Os receptores do LCA fornecem informações sobre a mudança de posição, movimento e tensão da articulação para o SNC, que estimula a contracção activa dos músculos isquiotibiais. Existe um tempo ideal de latência na reacção neuromuscular, que se encontra alterada, após a lesão do LCA, e diminuída através do treino proprioceptivo (Beard, 1993, cit. por PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007)
Em alguns estudos realizados, foram encontradas fibras nervosas que penetram os ligamentos cruzados. E identificados receptores tipo Golgi nas inserções do LCA, mais especificamente na superfície desse ligamento. Mais recentemente, foram descobertos receptores tipo Ruffini, Golgi e Paccini, que, em dissecções, mostraram ocupar 1% da área do LCA (Gardner, 1948; Kennedy et al., 1982; Schultz et al., 1984, cit. por SAMPAIO & SOUZA, 1994).
Segundo Ellenbecker, (2002, cit. por SAVOLDI, 2005) a informação proprioceptiva protege a articulação contra lesões causadas pelo movimento que excede a amplitude de movimento fisiológica e normal, ajudando a determinar o apropriado equilíbrio entre forças sinergistas e antagonistas.
Para Sampaio e Souza, (1994, cit. por PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007) a perda de informação proprioceptiva no joelho, em decorrência de lesão do LCA, contribui para o agravamento da instabilidade devido à diminuição da sensação de posição e pela ausência do estímulo para a contracção muscular reflexa.
O fuso muscular é constituído por fibras intrafusais inervadas por neurônios motores aferentes tipo gama e neurônios motores aferentes tipo Ia e tipo II. Isto ocorre devido aos receptores estarem localizados na zona equatorial do fuso e serem estimulados quando o músculo é alongado (Voight & Cook, 2003, cit. por BENEDITO & REIS, 2008).
Já o órgão tendinoso de Golgi é um receptor localizado na junção músculo e tem por objectivo fornecer informações sobre a tenção no interior dos músculos (contracção). Por estarem conectados a um pequeno grupo de fibras musculares, estes receptores tornam-se muitos sensíveis (respondem a forças inferiores 0,1G impostas nas porções musculares) a qualquer alteração de comprimento do músculo demonstrando assim sua função protectora (BENEDITO & REIS, 2008).
2.6.3. Proprioceptores do LCA
Segundo BENEDITO e REIS, (2008) no LCA, encontramos mecanorreceptores de dois tipos de adaptação, rápida e lenta. O mecanorreceptor do tipo Golgi possui carácter dinâmico, adaptação lenta aos estímulos e registam a verdadeira posição articular estando localizados nas inserções deste ligamento. Já o mecanorreceptor do tipo Ruffini possui carácter estático e dinâmico, adaptação lenta aos estímulos e tem como objectivo informar a mudança na posição articular. O outro mecanorreceptor existente no ligamento é o que pertence ao tipo Pacini cujas características são de adaptar-se lentamente aos estímulos, possui carácter dinâmico e fornece informações sobre a velocidade articular.
Assim, o LCA exerce um papel importante na função sensitiva, enviando impulsos aferentes ao sistema nervoso central e, portanto, promovendo reflexos que inibem movimentos potencialmente lesivos ao joelho (Macnicol, 2002, cit. por SAVOLDI, 2005).
Para Voight e Cook, (2003, cit. por BENEDITO & REIS, 2008) após a reconstrução do ligamento, os principais objectivos da reabilitação são o retorno da força muscular; recuperação da amplitude de movimento; melhorar o equilíbrio estático e dinâmico sobre o membro operado.
2.7. Tratamento fisioterapêutico para ganho de propriocepção
Para Papler et al., (1999, cit. por SAVOLDI, 2005) o treino proprioceptivo tem papel importante no tratamento das lesões ligamentares. Parece haver uma interrupção no mecanismo de feedback mecânico nessas lesões, o que aparentemente se restabelecem parcialmente com a reabilitação, tanto no tratamento conservador como no tratamento cirúrgico.
Segundo Kerkour e Salgado, (2003, cit. por SAVOLDI, 2005) a reprogramação neuromotora tem como objectivo final colocar o paciente nas condições de informações sensoriais próprias para a execução dos programas motores. Pela estimulação de receptores, o indivíduo passa pela etapa de aprendizagem, em seguida de adaptação antes de automatizar o gesto.
Muitas pesquisas têm sido conduzidas no sentido de procurar uma melhor compreensão dos possíveis mecanismos neuromusculares envolvidos no controle da estabilidade articular (He et al., 1988; Ihara & Nakayama, 1986; MacDonald et al., 1996; Solomonow et al., 1987, cit. por AQUINO, 2004).
PAIZANTE e KIRKWOOD, (2007) constataram a importância do treino proprioceptivo pós-lesão do LCA, observando ser possível realizá-lo com materiais simples e de baixo custo, possibilitando assim fácil acesso aos profissionais da área de saúde.
Concluíram também que é clara a importância da propriocepção na reabilitação do joelho, contribuindo para a retoma eficaz da habilidade e confiança na realização de qualquer actividade que exija a utilização da articulação do joelho.
SAMPAIO e SOUZA (1994) observaram que em todos os relatórios da avaliação subjectiva dos pacientes, houve uma perda do medo no retorno às actividades e ao desporto devido à reeducação proprioceptiva.
No trabalho realizado por OLIVEIRA et al., (2007) foi encontrada diferença significativa no teste de actividade funcional entre o grupo de atletas e o grupo de sedentários, porém não foi encontrada diferença significativa entre o grupo da amostra de LCA em relação aos outros dois grupos.
BONFIM e PACOOLA, (2000) observaram no seu estudo que a reconstrução do LCA com o enxerto de ligamento rotuliano possui deficiência proprioceptiva significante quando comparado com o joelho contralateral normal. Dizendo por fim que não há diferença significante na propriocepção entre os joelhos reconstruídos com enxerto autólogo de ligamento rotuliano e os joelhos reconstruídos com enxerto homólogo de ligamento rotuliano.
Conclusão
O presente trabalho de investigação, tinha como principal objectivo verificar a eficácia da Fisioterapia na propriocepção do joelho após a ruptura do LCA, posto isto foram analisados inúmeros artigos científicos, que por sua vez foram utilizados na revisão bibliográfica. Verificamos que a ruptura do LCA é uma lesão que ocorre com bastante frequência nos dias que decorrem, principalmente na prática desportiva, isto devido, a desacelerações, rotações e saltos, como tal assume-se um grande desafio para a reabilitação.
Em concordância com os resultados obtidos em diversos trabalhos realizados por outros investigadores referidos no enquadramento teórico, prevê-se que a fisioterapia influencie de forma positiva o nível de reabilitação da propriocepção dos pacientes com ruptura do LCA.
O Fisioterapeuta, como profissional de saúde, inserido numa equipa multidisciplinar desempenha um papel muito importante na reabilitação de pacientes com ruptura do LCA, como também na sua prevenção.
Embora este estudo de investigação tenho sido apenas teórico, conseguimos recolher mais e melhor informação sobre esta lesão, para posteriormente, conseguirmos realizar de forma mais profissional o nosso papel de Fisioterapeuta.
Para finalizar, pode-se referir que foram sentidas algumas dificuldades devido à falta de experiência na elaboração deste tipo de investigação e da falta de referências bibliográficas no estudo da propriocepção do LCA.
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Esta articulação de carga, une dois ossos longos com superfícies articulares pouco congruentes estando sujeito a lesões traumáticas, sendo uma das articulações mais lesadas do corpo.
O LCA é o ligamento do joelho que apresenta ruptura completa com maior frequência, sendo responsável por 50% de todas as lesões ligamentares. A maioria das lesões do LCA ocorre em actividades desportivas, principalmente naquelas que envolvem movimentos de desaceleração, rotação e saltos.
A ruptura deste ligamento não causa apenas alterações articulares das estruturas e nas suas funções, mas também representa a perda da função proprioceptiva na articulação do joelho. Estes factores podem provocar alterações das propriedades eléctricas dos músculos que atravessam a articulação do joelho.
Posto isto, optou-se por aprofundar o tema: a propriocepção na articulação do joelho após a ruptura do LCA, diante desses aspectos o presente trabalho pretende responder “Será que a fisioterapia auxilia na reabilitação da propriocepção do joelho após a ruptura do LCA?”.
O objectivo principal deste estudo é aglomerar informações sobre os diferentes tratamentos fisioterapêuticos e valorizar a importância da incorporação de um elemento proprioceptivo, uma vez que em qualquer programa de reabilitação se justifica, pelo facto de restaurar a sensibilidade proprioceptiva e melhorar o funcionamento da articulação, diminuindo o risco de ocorrências de novas lesões. Para tal vai ser realizado um estudo quantitativo, descritivo e transversal.
O estudo vai ser aplicado no distrito de Bragança em centros que realizem fisioterapia (incluindo Hospitais, Centro de Saúde e Clínicas de Reabilitação) e serão seleccionados pacientes com ruptura do LCA, que respeitem os critérios de inclusão do referido estudo.
Como questões secundárias serão investigadas a idade, o tipo de enxerto, e as complicações após cirurgia.
O objectivo da fisioterapia no processo de reabilitação é de enfatizar o retorno às actividades de vida diárias normais, com integral amplitude de movimento e força adequada promovendo ao paciente estabilidade e funcionalidade na articulação lesada.
Este estudo é valido e exequível uma vez que o tratamento fisioterapêutico melhora a propriocepção da articulação do joelho após a ruptura total do LCA.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Anatomia do Joelho
O joelho, origem do latim Genu, é um complexo articular que envolve três estruturas ósseas que são as seguintes: o fémur; a tíbia e a rótula (GOROTRON, 2007).
A articulação do joelho permite mobilidade e estabilidade, alongando e encurtando o membro inferior para elevar e baixar o corpo ou mover o pé no espaço. Actua também no suporte de carga quando o indivíduo está em pé juntamente com a anca e tornozelo (KISNER & COLBY, 1998).
Posto isto podemos designar duas articulações funcionais tais como a articulação fémero-tibial, a articulação entre o fémur e a tíbia e a articulação fémero-rotuliana, entre o fémur e a patela, que permite a flexão e extensa, assim como a rotação quando está flectida, o que lhe permite aproximar ou afastar o extremo do membro da sua raiz (KAPANDJI, 2000).
2.1.1. Cápsula articular
No joelho encontram-se superfícies articulares alojadas na mais extensa cápsula do corpo. Cápsula essa que está suportada a nível estático como dinâmico devido aos ligamentos adjacentes e estruturas musculotentinosas (Gould, 1993, cit. por SILVA et al., 2008).
A cápsula articular do joelho é em geral muito fina e deficiente em algumas zonas, reveste as articulações tíbio-femural e fémuro-rotuliana. Esta tem quatro inserções, que são as seguintes, no fémur acima da fossa intercondilar; no bordo dos côndilos femurais; no bordo da rótula e nos bordos dos côndilos tibiais (GOROTRON, 2007).
Posteriormente a cápsula é reforçada por músculos e pelos ligamentos poplíteo oblíquo e arqueado. As laterais da cápsula são reforçadas pelos ligamentos colaterais. A parte anterior desta é forçada pela da rótula, pelo tendão do quadricípete superior e o ligamento rotuliano. Na zona anteromedial e anterolateral formam-se os retináculos rotulianos que são expansões do músculo vasto medial e vasto lateral, que vão da rótula e do ligamento rotuliano aos ligamentos colaterais (GOROTRON, 2007).
2.1.2. Ligamentos
Os ligamentos são constituídos por um feixe de tecido fibroso, formado por tecido conjuntivo, que unem duas estruturas ósseas de uma articulação ou mantém um órgão interno na sua posição habitual. Na sua constituição tem fibras colágenas ordenadas em feixes que lhe oferece grande resistência mecânica (KAPANDJI, 2000).
Todos os ligamentos do joelho são importantes para a sua estabilidade. Devido à tensão dos ligamentos em extensão, o end-feel do joelho é duro, embora não havendo embate ósseo (GOROTRON, 2007).
2.1.2.1. Ligamentos colaterais
Os ligamentos colaterais são extracapsulares. O ligamento colateral medial tem a sua origem no epicôndilo femural medial, orientado anteriormente para inserir-se na face medial da tíbia. Profundamente a este ligamento podem estar presentes uma ou mais bolsas. O ligamento colateral lateral, tem uma configuração mais arredondado e em forma de cordão. Este ligamento tem a sua origem no epicôndilo femural lateral e insere-se posteriormente, na cabeça do perónio. O ligamento colateral lateral não tem fixações no menisco ou na cápsula articular ao contrário do medial (GOROTRON, 2008).
2.1.2.2. Ligamentos cruzados
Os ligamentos cruzados são intra-articulares, estão localizados no centro da cápsula, encontrando-se fora da cavidade sinovial. Recebem esta denominação devido as suas inserções tibiais e por se cruzarem no centro do joelho. O LCA tem origem no côndilo femural lateral, na parte postero-interna deste, passando sob o ligamento transverso e de seguida insere-se na tíbia anterior. O ligamento cruzado posterior (LCP) por usa vez tem origem na parte interna do côndilo femural medial e de seguida insere-se na parte posterior da tíbia, este é menos oblíquo e tem um tamanho mais reduzido do que o LCA. Ambos os ligamentos têm fascículos que podem ser divididos em banda anterior medial e banda posterior lateral (GOROTRON, 2007).
2.1.3. Músculos
O principal músculo responsável pela extensão do joelho é o quadricípete, sendo o recto anterior a sua única porção que cruza as duas articulações. Os músculos responsáveis pela flexão são os ísquio-tibiais, auxiliados pelo recto interno, sartório e gémeos. Para Gardner (1988, cit. por GOROTRON, 2007) é improvável que o poplíteo contribua para a flexão do joelho. O bícipete femural é o responsável pela rotação lateral, enquanto o semitendinoso e o semimembranoso são responsáveis pela rotação medial. Segundo o mesmo autor, o semimembranoso não participa na rotação medial, mas sim o poplíteo, sendo considerado importante para “destrancar” a articulação.
A figura que se segue representa a anatomia do Joelho.
Figura 1: Anatomia do Joelho
Fonte: http://www.gustavokaempf.com.br/joelho/anatomia
A figura anterior (Figura 1) é composta por quadro imagens do joelho. A primeira imagem representa o plano ósseo da articulação do joelho, sendo ela composta pelo fémur, tíbia e a rotula. A segunda imagem ilustra a localização das bolsas, cápsula articular, a membrana sinobial, a cartilagem articular, entre outras. A terceira imagem representa a vista anterior em flexão, ilustrando toda a sua anatomia. Por fim a quarta imagem representa a vista posterior em extensão do joelho, ilustrando toda a sua anatomia.
2.2. Anatomia do LCA
O LCA e o LCP são estruturas responsáveis pela estabilidade do joelho. São ligamentos extra sinoviais, apesar de serem ligamentos intra-articulares. Ambos recebem esta denominação devido à sua inserção tibial, e por se cruzarem no centro do joelho (CASTRO et al., 2003).
Os ligamentos cruzados têm como função promover a estabilidade ântero-posterior da articulação do joelho. Estudos realizados por Hebert, (2003, cit. por BORBA & PETROCHI, 2005) comprovam que o LCA tem comportamento mecânico individualizado. O LCA é o ligamento mais fraco, esta característica deve-se ao número reduzido de vasos sanguíneos e colágenos do tipo IV (Andrews, 2000; Harrelson, 2000; Wilk, 2000, cit. por SAVOLDI, 2005).
O LCA tem a origem na porção postero-lateral do intercondilo e a respectiva inserção dirige-se para a frente no centro do platô tibial no lado externo e à frente da espinha anterior da tíbia. Contudo, a inserção tibial é mais firme do que a inserção femoral por ocupar uma área mais ampla e deprimida (Campbell, 1996, cit. por BORBA & PETROCHI, 2005; Crenshaw, 1989, cit. por PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007; Irrgang & Rivera, 1994, cit. por PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007).
O LCA é o principal estabilizador do joelho contra a translação anterior da tíbia sob o fémur e contra a rotação externa do fémur sobre a tíbia, tendo também importante contribuição (juntamente com o ligamento colateral medial) na estabilização contra o stress valgo. Além desta função mecânica, tem sido descrito, ainda, um papel complementar proprioceptivo, por meio de terminações nervosas contidas no mesmo (Frank & Jackson, 1997, cit. por VIEIRA et al., 2005; MELLO et al., 2003).
2.3. Lesão do LCA
A faixa etária mais comum associado com rupturas do LCA está entre 15 e 25 anos de idade, porém esta lesão também tem sido vista em indivíduos activos com até 50 anos. Além disso, existem factores que predispõem o indivíduo à lesão do LCA inclui os seguintes: nó intercondilar estreito, rotação tibial, hipermobilidade, alinhamento do pé e largura da pelve no atleta do sexo feminino (Maxey & Magnusson, 2003, citado por SAVOLDI, 2005).
A ruptura completa do LCA é a ruptura do ligamento do joelho que se apresenta com maior frequência, sendo este responsável por 50% de todas as lesões ligamentares no desporto. Onde os principais mecanismos de lesão são: rotação externa, abdução e forças anteriores aplicadas na tíbia; rotação interna do fémur sobre a tíbia; hiperextensão do joelho; desaceleração e saltos. A lesão ligamentar do LCA pode também ocorrer por mecanismo directo, quando o joelho é atingido por um corpo externo (Barber-Westin & Noyes, 1993, cit. por LUSTOSA et al., 2007; Benedito & Reis, 2004, cit. por SAVOLDI, 2005; Bollen, 1998, citado por BONFIM & PACCOLA, 2000; Bollen, 1998, cit. por CARDOSO et al., 2008; Brito et al., 2009; Duthon et al., 2006, cit. por CARDOSO et al., 2008; Gould, 1993, cit. por SALVOLDI, 2005; Hebert, 2003, cit, por BORBA & PETROCHI, 2005; MELLO et al., 2003; Sampaio & Souza, 1997;).
Segundo Benedito e Reis (2005, cit. por SAVOLDI, 2005) o LCA tem basicamente duas funções, a mecânica e a proprioceptiva. Relativamente à função mecânica esta evita que o fémur se mova posteriormente durante a sustentação de peso; estabiliza o joelho na extensão total e evita a hiperextensão. Também estabiliza a tíbia contra a rotação interna excessiva e serve como limitador secundário para stress em valgo/varo quando o ligamento colateral estiver lesado. Relativamente à função proprioceptiva, esta por conter mecanorreceptores, o ligamento informa ao sistema nervoso central (SNC) sobre mudanças de posição e stress articular que ocorrem no membro. Com a ruptura do LCA o joelho fica desprovido tanto de informações proprioceptivas originadas do ligamento, quanto de sua função mecânica.
2.4. Cirurgia do LCA
Com a evolução das técnicas de anestesia, assepsia e terapia antibiótica, a abordagem cirúrgica no tratamento da lesão do LCA começou a ganhar espaço (PENTEADO et al., 2003).
A reconstrução do LCA é um dos procedimentos mais comummente realizados na área da medicina desportiva. Este procedimento obteve grande avanço nos últimos anos com a introdução da técnica artroscópica. Apesar da incidência das complicações ter diminuído, o cirurgião deve ter conhecimento profundo da anatomia e das técnicas cirúrgicas a serem realizadas, para procurar evitá-las (PENTEADO et al., 2003; FAUSTINO, 2004).
Para Kisner e Colby, (1998, cit. por SALVOLDI, 2005) a intervenção cirúrgica é indicada quando a instabilidade articular causa incapacidade e limitações funcionais ou pode eventualmente levar à deterioração das superfícies articulares.
Segundo Ellenbercker (2002, cit. por SALVOLDI, 2005), os principais objectivos da reconstrução do LCA e de sua reabilitação são a restauração da estabilidade do joelho, preservação dos meniscos e das superfícies articulares, retorno seguro e rápido às actividades normais e identificação precoce de possíveis complicações.
2.5. Escolha do enxerto
A melhor escolha do enxerto para a substituição do LCA é importante para a melhor obtenção final da reconstrução (SAVOLDI, 2005).
Na selecção de um enxerto, temos que ter em conta as propriedades biomecânicas do enxerto, facilidade para a colecta e fixação do enxerto, a morbilidade para o local doador e preocupações individuais dos pacientes (SAVOLDI, 2005).
Na actualidade os enxertos mais utilizados são: o terço médio do ligamento rotuliano, os tendões dos músculos isquiotibiais (mais propriamente o músculo semitendíneo e recto interno), e o tendão quadricipital, por ordem de maior popularidade (PENTEADO et al., 2003).
O tendão rotuliano é o enxerto mais pretendido pelos ortopedistas, devido às suas propriedades mecânicas, à sua revascularização, resiste ao estiramento e porque a sua fixação é a mais forte (Jones, 1963; O’brien, 1992, cit. por PACCOLA et al., 2000; PENTEADO et al., 2003; Gould, 1993 cit. por SAVOLDI 2005).
Os enxertos homólogos ainda são pouco utilizados e obtêm-se a partir de cadáveres humanos, a justificação para tal é devido à baixa disponibilidade e ao seu custo elevado de processamento (PENTEADO, 2003). Como principais vantagens podemos referir a baixa morbidade do paciente, o tempo cirúrgico ser reduzido e a dor pós-operatório ser menor (PACCOLA, 2000; PENTEADO, 2005).
2.6. Propriocepção
Segundo Bacarin et al., (2004, cit. por SALVOLDI, 2005) o termo propriocepção é utilizado para descrever todas as informações neurais originadas nos proprioceptores das articulações, músculos, tendões, cápsulas e ligamentos, que são enviadas através de vias aferentes ao SNC, de modo consciente ou inconsciente, sobre as relações biomecânicas dos tecidos articulares, as quais podem influenciar o tónus muscular, programas de execução motora e coordenação, cinestesia, reflexos musculares, equilíbrio postural e estabilidade articular.
Nunes et al., (2003, cit. por OLIVEIRA et al., s/data) define propriocepção como a capacidade inconsciente de sentir o movimento e a posição de uma articulação no espaço. É caracterizada por aferencias neurais cumulativas originadas de mecanorreceptores. Na articulação do joelho esses mecanorreceptores situam-se nas cápsulas, ligamentos, músculos e tendões com aferências ao sistema nervoso central.
Na avaliação da propriocepção do joelho, autores de vários estudos baseiam-se na utilização do aparelho de movimentação passiva contínua (Continuous Passive Motion – CPM) (BONFIM & PACCOLA, 2000; SAMPAIO & SOUZA 1994;).
2.6.1. Receptores proprioceptivos
Em 1992, Lemos (cit. por BENEDITO et al., 2008) define como mecanorreceptores estruturas terminais especializados, cuja função é de transformar a energia mecânica da deformação física (alongamento, compressão e pressão) em potenciais de acção nervosos que geram as informações proprioceptivas.
As estruturas músculo-cápsulo-menisco-ligamentares do joelho, além da função estabilizadora mecânica da articulação, são sede de corpúsculos mecanorreceptores, também chamados de proprioceptores, que constituem o órgão sensorial dessa articulação (Boyd, 1954; Clark & Burgess, 1975; Finsterbush & Friedman, 1975; Krause, 1974; O’Connor & McConnaughey, 1978, cit. por SAMPAIO & SOUZA, 1994) .
Segundo Bacarin et al. (2004, cit. por SAVOLDI, 2005) os proprioceptores são receptores mecânicos, também chamados de mecanorreceptores, que são sensibilizados durante a deformação articular, levando informações sobre a angulação e velocidade do movimento.
Para SAMPAIO e SOUZA, (1994) os mecanorreceptores oferecem informações para o SNC sobre as mudanças de posição, movimento e stress articular num determinado tempo de resposta, por sua vez o cérebro inicia reflexo de contracção da musculatura em torno do joelho, criando um campo de protecção e estabilização dessa articulação.
Silvestre e Lima, (2003) (cit. por SAVOLDI, 2005) classifica os principais proprioceptores em três tipos (tipo I, II e III). Em que o mecanorreceptores do tipo I, situam-se na camada externa da cápsula fibrosa. Responsáveis pela disposição ordenada dos músculos tónicos de adaptação lenta. Os mecanorreceptores do tipo II, situam-se na camada inferior da cápsula fibrosa. Responsáveis pelo sentido do movimento ordenado aos músculos fásicos de adaptação lenta. E por fim os mecanorreceptores do tipo III, situam-se próximos aos ligamentos da articulação. Responsáveis pelo efeito inibidor dos reflexos sobre os neurónios motores.
2.6.2. Proprioceptores do Joelho
Os principais proprioceptores são os receptores articulares, compostos por terminações livres e pelos corpúsculos de Ruffini, Paccini e Golgi, e relacionam-se com as sensações de posição e direcção do movimento, sendo sensíveis as variações de amplitude e velocidade angular, bem como à pressão intra-articular. Nos ligamentos, funcionam como protectores e informam a posição respectiva do membro além da tensão ligamentar. Os receptores são estimulados através da sua deformação, sendo esta por meio da tracção ou coaptação articular (Lehmkuhl & Smith, 1999, cit. por MARTIMBIANCO et al., 2008).
Os receptores do LCA fornecem informações sobre a mudança de posição, movimento e tensão da articulação para o SNC, que estimula a contracção activa dos músculos isquiotibiais. Existe um tempo ideal de latência na reacção neuromuscular, que se encontra alterada, após a lesão do LCA, e diminuída através do treino proprioceptivo (Beard, 1993, cit. por PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007)
Em alguns estudos realizados, foram encontradas fibras nervosas que penetram os ligamentos cruzados. E identificados receptores tipo Golgi nas inserções do LCA, mais especificamente na superfície desse ligamento. Mais recentemente, foram descobertos receptores tipo Ruffini, Golgi e Paccini, que, em dissecções, mostraram ocupar 1% da área do LCA (Gardner, 1948; Kennedy et al., 1982; Schultz et al., 1984, cit. por SAMPAIO & SOUZA, 1994).
Segundo Ellenbecker, (2002, cit. por SAVOLDI, 2005) a informação proprioceptiva protege a articulação contra lesões causadas pelo movimento que excede a amplitude de movimento fisiológica e normal, ajudando a determinar o apropriado equilíbrio entre forças sinergistas e antagonistas.
Para Sampaio e Souza, (1994, cit. por PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007) a perda de informação proprioceptiva no joelho, em decorrência de lesão do LCA, contribui para o agravamento da instabilidade devido à diminuição da sensação de posição e pela ausência do estímulo para a contracção muscular reflexa.
O fuso muscular é constituído por fibras intrafusais inervadas por neurônios motores aferentes tipo gama e neurônios motores aferentes tipo Ia e tipo II. Isto ocorre devido aos receptores estarem localizados na zona equatorial do fuso e serem estimulados quando o músculo é alongado (Voight & Cook, 2003, cit. por BENEDITO & REIS, 2008).
Já o órgão tendinoso de Golgi é um receptor localizado na junção músculo e tem por objectivo fornecer informações sobre a tenção no interior dos músculos (contracção). Por estarem conectados a um pequeno grupo de fibras musculares, estes receptores tornam-se muitos sensíveis (respondem a forças inferiores 0,1G impostas nas porções musculares) a qualquer alteração de comprimento do músculo demonstrando assim sua função protectora (BENEDITO & REIS, 2008).
2.6.3. Proprioceptores do LCA
Segundo BENEDITO e REIS, (2008) no LCA, encontramos mecanorreceptores de dois tipos de adaptação, rápida e lenta. O mecanorreceptor do tipo Golgi possui carácter dinâmico, adaptação lenta aos estímulos e registam a verdadeira posição articular estando localizados nas inserções deste ligamento. Já o mecanorreceptor do tipo Ruffini possui carácter estático e dinâmico, adaptação lenta aos estímulos e tem como objectivo informar a mudança na posição articular. O outro mecanorreceptor existente no ligamento é o que pertence ao tipo Pacini cujas características são de adaptar-se lentamente aos estímulos, possui carácter dinâmico e fornece informações sobre a velocidade articular.
Assim, o LCA exerce um papel importante na função sensitiva, enviando impulsos aferentes ao sistema nervoso central e, portanto, promovendo reflexos que inibem movimentos potencialmente lesivos ao joelho (Macnicol, 2002, cit. por SAVOLDI, 2005).
Para Voight e Cook, (2003, cit. por BENEDITO & REIS, 2008) após a reconstrução do ligamento, os principais objectivos da reabilitação são o retorno da força muscular; recuperação da amplitude de movimento; melhorar o equilíbrio estático e dinâmico sobre o membro operado.
2.7. Tratamento fisioterapêutico para ganho de propriocepção
Para Papler et al., (1999, cit. por SAVOLDI, 2005) o treino proprioceptivo tem papel importante no tratamento das lesões ligamentares. Parece haver uma interrupção no mecanismo de feedback mecânico nessas lesões, o que aparentemente se restabelecem parcialmente com a reabilitação, tanto no tratamento conservador como no tratamento cirúrgico.
Segundo Kerkour e Salgado, (2003, cit. por SAVOLDI, 2005) a reprogramação neuromotora tem como objectivo final colocar o paciente nas condições de informações sensoriais próprias para a execução dos programas motores. Pela estimulação de receptores, o indivíduo passa pela etapa de aprendizagem, em seguida de adaptação antes de automatizar o gesto.
Muitas pesquisas têm sido conduzidas no sentido de procurar uma melhor compreensão dos possíveis mecanismos neuromusculares envolvidos no controle da estabilidade articular (He et al., 1988; Ihara & Nakayama, 1986; MacDonald et al., 1996; Solomonow et al., 1987, cit. por AQUINO, 2004).
PAIZANTE e KIRKWOOD, (2007) constataram a importância do treino proprioceptivo pós-lesão do LCA, observando ser possível realizá-lo com materiais simples e de baixo custo, possibilitando assim fácil acesso aos profissionais da área de saúde.
Concluíram também que é clara a importância da propriocepção na reabilitação do joelho, contribuindo para a retoma eficaz da habilidade e confiança na realização de qualquer actividade que exija a utilização da articulação do joelho.
SAMPAIO e SOUZA (1994) observaram que em todos os relatórios da avaliação subjectiva dos pacientes, houve uma perda do medo no retorno às actividades e ao desporto devido à reeducação proprioceptiva.
No trabalho realizado por OLIVEIRA et al., (2007) foi encontrada diferença significativa no teste de actividade funcional entre o grupo de atletas e o grupo de sedentários, porém não foi encontrada diferença significativa entre o grupo da amostra de LCA em relação aos outros dois grupos.
BONFIM e PACOOLA, (2000) observaram no seu estudo que a reconstrução do LCA com o enxerto de ligamento rotuliano possui deficiência proprioceptiva significante quando comparado com o joelho contralateral normal. Dizendo por fim que não há diferença significante na propriocepção entre os joelhos reconstruídos com enxerto autólogo de ligamento rotuliano e os joelhos reconstruídos com enxerto homólogo de ligamento rotuliano.
Conclusão
O presente trabalho de investigação, tinha como principal objectivo verificar a eficácia da Fisioterapia na propriocepção do joelho após a ruptura do LCA, posto isto foram analisados inúmeros artigos científicos, que por sua vez foram utilizados na revisão bibliográfica. Verificamos que a ruptura do LCA é uma lesão que ocorre com bastante frequência nos dias que decorrem, principalmente na prática desportiva, isto devido, a desacelerações, rotações e saltos, como tal assume-se um grande desafio para a reabilitação.
Em concordância com os resultados obtidos em diversos trabalhos realizados por outros investigadores referidos no enquadramento teórico, prevê-se que a fisioterapia influencie de forma positiva o nível de reabilitação da propriocepção dos pacientes com ruptura do LCA.
O Fisioterapeuta, como profissional de saúde, inserido numa equipa multidisciplinar desempenha um papel muito importante na reabilitação de pacientes com ruptura do LCA, como também na sua prevenção.
Embora este estudo de investigação tenho sido apenas teórico, conseguimos recolher mais e melhor informação sobre esta lesão, para posteriormente, conseguirmos realizar de forma mais profissional o nosso papel de Fisioterapeuta.
Para finalizar, pode-se referir que foram sentidas algumas dificuldades devido à falta de experiência na elaboração deste tipo de investigação e da falta de referências bibliográficas no estudo da propriocepção do LCA.
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