Reabilitação acelerada: será que vale a pena?

A imagem que se tem da fisioterapia aplicada à atividade física e ao esporte, é pura e simplesmente de reabilitar lesões sofridas em práticas relacionadas a atividade física ou esportiva; e reabilitar o mais rápido possível, ou seja, quanto mais rápido o atleta voltar à atividade, melhor o profissional que o reabilitou. Porém, esta relação da curta duração do tratamento com a qualidade do profissional não é verdadeira, e muito menos se resume apenas ao tratamento de uma lesão. Atualmente, podemos afirmar que em relação ao esporte de alto nível, quanto menos se trabalha durante uma temporada, e quando digo trabalho, digo em relação à reabilitação de lesões, melhor o trabalho desenvolvido na pré-temporada e, aí sim, melhor é o profissional. Desde 1972, a American Orthopaedic Society for Sports Medicine, dentre outras instituições, vem desenvolvendo pesquisas e grandes avanços foram alcançados. Os cirurgiões têm melhorado suas intervenções cirúrgicas e os fisioterapeutas seus programas de reabilitação, possibilitando a esses profissionais especializados o tratamento de lesões graves, que em outra circunstância, terminaria com a carreira de um atleta. Num cada vez mais curto espaço de tempo, estes profissionais estão promovendo o retorno do atleta à atividade física ou esportiva. O rótulo reabilitação acelerada tem sido muito explorado pela mídia. Os programas de reabilitação realizados em atletas famosos, objetivando o retorno relâmpago, já foram transmitidos em cadeia nacional, principalmente, aqueles que envolvem investimentos astronômicos de patrocinadores. Além disso, ainda temos alguns dirigentes que dependem de resultado para se autopromover, temos atletas que dependem de estar em atividade para receber e, ainda temos, o que é pior, o profissional da área da saúde que vê na lesão do atleta uma oportunidade de aparecer. Com toda essa informação, o atleta recreacional que tem na atividade física sua válvula de escape, seu ponto de equilíbrio, já chega no nosso consultório perguntando "Quando volto pra minha pelada?", "Já posso correr?" ou então "Quando é minha alta doutor?" e temos que explicar que para um bom resultado terapêutico nós não temos que lutar contra o tempo, mas sim usá-lo como aliado em todo o processo. Toda lesão precisa ser avaliada com muito cuidado, principalmente por que ela não está ali isolada, há um indivíduo, um jogador de futebol ou um executivo, um corredor ou uma bailarina que estão sofrendo por não estarem praticando sua atividade de trabalho ou de lazer, ou então, por não estarem conseguindo desenvolvê-la plenamente. E então? Vamos lá trabalhar em três períodos, todo dia, pra acelerar o processo, ou trabalhar conservadoramente? Como já disse todo o paciente deve ser avaliado cuidadosamente. O fisioterapeuta que trabalha no esporte tem que sempre estar pensando em preservar e estimular a saúde do atleta, e deverá sempre perceber as interferências naturais ou patológicas da atividade física ou do desporto na gênese de uma disfunção ou de uma lesão, ou seja, para um mesmo problema, ou para um mesmo sintoma, podem ser prescritos tratamentos diferentes com o mesmo objetivo final. A meu ver, o grande problema do boom da reabilitação acelerada é a utilização indiscriminada de protocolos de tratamento de fulano ou beltrano, que antevêem os resultados no tempo e determinam a evolução do tratamento baseado nisso. Isto pode ser ao mesmo tempo um fator de aceleração indevida no processo terapêutico para uns, e um fator de atraso neste mesmo processo para outros. Vejam bem, quem sou eu para questionar o mérito de fulano ou beltrano, muito pelo contrário, é extremamente interessante que se conheça os protocolos, para que possamos alterá-los de forma a adequar o trabalho de reabilitação a cada paciente, a cada atividade e a cada esporte e, aí sim, acelerar o processo de reabilitação. Só que o processo não para por aí, o atleta que volta as atividades precocemente, precisa de contínua atenção para a perpetuação dos resultados terapêuticos, o que poderíamos chamar de reabilitação continuada.
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